quarta-feira, 11 de agosto de 2010

O Dia da Cirurgia

O pequenino no colo do pai enquanto aguardava a cirurgia

Ao adentrar as portas daquele local, as seis crianças acompanhadas de suas respectivas mães ficaram encantadas com os personagens da Turma da Mônica grafitados nas paredes da sala. Apenas uma criança, a mais novinha, não entendia muito bem o que se passava, mas seus pais (sim, ela era a única que estava acompanhada pelo pai e pela mãe) apontavam com os dedos e tentavam lhe mostrar a graciosidade das figuras ao redor.
A cena seria digna de uma manhã de pura diversão, não fosse por se tratar da UTI Neonatal do Hospital Municipal “Dr. Waldemar Tebaldi”, de Americana.
O fato se passou na última segunda-feira (09/08), quando chegamos às 6 horas no hospital para a realização da cirurgia do freio de língua curto do Arthur...
Estávamos tensos e ansiosos para que aquele dia passasse logo e quando abriram as portas da recepção do local para as crianças entrarem com suas mães, não pensamos duas vezes e entramos ambos para acompanhar o bebezinho que sorria embrulhado no cobertor para se proteger do frio cortante que fazia.
A turma seguia uma enfermeira pelos corredores do hospital até chegar na sala que, ao contrário do nome (UTI Noenatal), não era nada assustadora. Berços com grade e camas pequeninas encostadas na parede logo foram ocupadas pelas crianças, que foram escolhendo onde ficariam de modo tão natural quanto se estivessem chegado num hotel. Os adultos começaram a se ajeitar em confortáveis poltronas ao lado de seus filhos.
Os pais (nós) do bebê, meio perdidos, relutavam em colocá-lo no bercinho apontado pela enfermeira, mas, depois de alguns minutos, acabaram cedendo.
Deitado no berço, Arthur admirava tudo e todos ao seu redor e abria um enorme sorriso de tempos em tempos até mesmo quando a enfermeira, uma baixinha de óculos bem simpática, veio com uma daquelas camisolas de hospital (abertas atrás) tamanho recém-nascido.
Pouco a pouco os adultos começaram a conversar enquanto seus filhos aguardavam ser chamados, um a um, para as respectivas cirurgias. Uma criança operaria de hérnia umbilical, a outra de um dedinho torto; o garotinho esperto de 2 anos iria operar a fimose e o outro, mais velho, retiraria uma hemorróida. Já o pequenino, todo sorridente, faria uma pequena cirurgia na língua presa.
Quando a enfermeira veio pedir aos pais que colocassem a camisola no bebê, a mãe foi tomada por uma sensação de dó e a tarefa acabou ficando a cargo do pai, que, cuidadosamente, tirou a roupinha do filho, olhou a fralda e colocou a camisolinha, enrolando-o num lençol do hospital e na manta que trouxera de casa.
Chegada a hora (mais ou menos 7h50) foram os três acompanhando a enfermeira pelo corredor frio e o pequeno, no colo do pai, balançava seus pezinhos descalços até o centro cirúrgico.
A enfermeira saiu e ficaram ali, os três, entre a porta de vidro e a de madeira do centro cirúrgico aguardando o anestesista, até que Arthur, impaciente, decidiu gritar a todos que estava há quase duas horas em jejum e queria mamar logo. E a gritaria deu certo, pois logo vieram os médicos para ver o que acontecia.
De repente, uma enfermeira abriu a porta e retirou o bebê do colo do pai para levá-lo à mesa de cirurgia. Os dois, sem saber direito o que fazer e/ou pensar ficaram ali, imóveis, ouvindo o chorinho do filho que se afastava.
Na cabeça da mãe passavam mil e uma preocupações com a anestesia e os três pontinhos que o médico dissera que seriam dados na língua do bebê. Foi quando ouviu-se ao longe um choro abafado, como se estivessem tapando a boca do pequenino.
A mãe, nervosa, comentava com o pai, assustado, que parecia que estavam tapando a boca de seu filho, quando, repentinamente, a porta de madeira se abriu e o pequeno foi entregue no colo do pai, chorando desesperadamente, com uma gaze na boca suja de sangue.
Diante dos olhos lacrimejantes da mãe (e do bebê), a enfermeira avisou que não houve a necessidade de sedação nem de se dar pontos na língua e pediu à mãe que desse o peito ao filho naquele momento para acalmá-lo. Mas quando o bebê, todo desajeitado, foi posto no seio da mãe que, apesar das pernas bambas e os olhos embaçados, estava em pé a reação foi inesperada: apesar da fome, o pequeno não conseguia mamar devido à dor do corte que acabara de se fazer.
Desconfortáveis e abalados com a situação, os pais pediram para retornarem à UTI Neonatal para tentar alimentar com mais tranqüilidade o recém operado. E assim foi. Entretanto, a dor e o susto do bebê eram tamanhos que no meio do caminho acabou dormindo no colo do pai que o segurou até que acordasse na UTI.
Ao acordar, Arthur foi trocado de roupa e colocado no peito e, dessa vez, mamou por quase meia hora sem parar enquanto o pai saiu à procura da assistente social para pedir um atestado e a alta hospitalar do garotinho.
Naquele dia o pequenino bebê de quase três meses chorou de dor por várias vezes, mas, para a surpresa e alegria dos jovens pais, no dia seguinte Arthur estava mais do que recuperado, com seus sorrisos cativantes e suas balbucias de “angú”, “au” e “brrrum”.

Um comentário:

  1. ai amanda.. que dó.. haha parece que dava pra eu sentir daqui a agonia de mãe rs..
    bjo

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